Colômbia simpática


A cada quilometro que adentrávamos na Colômbia, íamos ficando encantado com o tratamento a nos dispensados tanto pela população, quanto pela guarda nacional que, muito raro, nos parou para pedir os documentos, mas sempre, pra simplesmente conversar e dar boas vindas e quando não nos paravam, sempre trocavam o fuzil ou a metralhadora de mão, e num aceno, acompanhado de um sorriso amigável, nos desejavam boa viagem.

Em um desses momentos, ao sermos parados, vendo dois militares se aproximarem e estenderem e a mão para um cumprimento, um deles foi logo abordando o Hans com as perguntas de sempre; de onde vens? Pra onde vais? A potência da moto? Quanto custa? Etc. e outro, também, ao me fazer perguntas, no final, bem sorridente e ate me chamando pelo nome que ele tinha lido da “bolha” (para-brisa), de minha Boulevard, me pediu enfim os documentos. Brincando, falei que era uma discriminação, pois o outro não havia pedido os documentos a meu parceiro, quando então, ele também brincando me respondeu: “olha a idade dele, seria uma descortesia...” Está ai o povo mais simpático que conheci, nos mais de 17 países que passei desde a viagem de 2002.

E a Gold Wing tocando, de Paulinho Pedra Azul, gravado por mim, a poesia que diz: “Juro eu sou assim, tropeiro de cantigas que mudou de vida pra ser cantado, Passarim sem asas, sou tudo e nada, eu sou um sonhador...”

Depois de Cartagena, paramos pra dormir em Santa Marta, terra do ex-jogador de futebol, ídolo e orgulho da região, “Valderrama”, que inclusive tem seu busto em uma praça da cidade. No outro dia, como sempre as 06:00hs da matina, já estávamos de saída, observados por uma grande montanha por todos os lados e um sol nascente muito brilhante, furando os vales e baixos, em canudos de raios de luz que, a muito tem sido nosso único e verdadeiro guia, mas dessa vez nas nossas costas pois rumávamos para oeste.

Um pouco mais adiante, apesar de ter nosso guia, o Sol, pelas costas, e estar pensando nessa situação que ate então, tínhamos sempre rumado para o norte e agora havíamos mudado temporariamente de direção, tenho a bela surpresa de imediatamente ser respondido por nosso astro rei, como se quisesse me mostrar, que ele não nos havia nos abandonado e que estava ali pra nos indicar o caminho, nos dando segurança e a certeza de sermos sempre bem guiados por sua presença imperativa e energia vital ao se refletir no retrovisor da Gold Wing à minha frente, e assim permanecer sempre me guiando e por mais algumas horas e mais adiante ate findar essa manhã ensolarada da “Simpática Colômbia”.

A estrada continuava, com a presença alegre dos ciclo-taxis (bicicletas ou motos com uma carrocinha acoplada atrás, que cabem duas pessoas), mas agora tendo dos dois lados da via, lagos imensos de agua salgada, casas de pescadores sobre palafitas e ligadas à terra firme por longas passarelas de madeira também elevadas por estacas, formando uma espécie de “paliteiro” sobre as aguas, e ainda completando esse belo quadro, repousava elegantemente, bandos numerosos de garças brancas e outras de penas avermelhadas e de tamanhos variados.

La vai uma garça branca, vai voando, vai levando minha saudade, pra quem está morando em outra cidade...”

Aparece uma placa indicativa dizendo pra termos cuidado com “Brisa Fuerte”, e não pude deixar de questionar que se a “brisa” é “fuerte”, não é mais brisa e torna-se “vento”. Formaria assim em uma escala descendente de intensidade uma hierarquia respeitosa onde se inicia com: “Furacão, Tornado, Ventania, Vento, Brisa e Pum”.

É tempo de eleições na Colômbia, noto isso pelos inúmeros outdoors por todas as cidades que vamos passando, e não deixei de observar que em nenhum momento vi rostos de candidatos velhos em nenhum deles, sejam para deputados ou prefeitos. Todos com idade aparente de no máximo 40 anos, com sorrisos que passam além da energia da juventude, uma disposição em realizar e acontecer. Pensei comigo mesmo, e não com meus botões, mas com meu capacete que, talvez fosse essa a solução pra diminuir a corrupção no meio politico brasileiro, trocando assim, os velhos viciados, vingativos, profissionais de carreira e eternos “coronéis”, por jovens idealistas e ainda não mordidos pelo bicho da ambição e do interesse pessoal acima do coletivo.

A 150 km depois de Cartagena, vejo outra placa, dessa vez indicando “Tamanduás” cruzando a pista e um pouco mais adiante vejo um ciclista atropelado, sangrando um pouco pelo rosto, deitado em uma canaleta de esgoto de agua pluvial e com pessoas ao seu redor, certamente esperando socorro medico e sua bicicleta mais adiante embaixo do carro de seu algoz. Isso sempre me alerta a continuar tendo muito cuidado com os perigos dessa aventura sobre duas rodas.

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