Estados Unidos da América


Iuruuuuuuuuuuu!!!!!!......
Airiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii!!!!
Eihaiuuuuuuuu….!!!
Aoiaiaiaiaiaiaiiaiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiihiiiiiiiiiii…
Cheguei nos States, povão da garupaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa............

Esses foram os gritos que meu capacete ecoou quando vi os portões dos estados unidos...
Desabafo... descarrego... alivio.... grito de sentimento de quase vitória...
De saber que tenho enfrentado tudo e principalmente a mim mesmo e começando a vencer...
Desafios internos... físicos... morais... convivência... perigos...

Mas vocês saberão de tudo no próximo relato...
Chagamos em New Orleans depois de amanha...
Mais uma vez obrigado pela companhia e a amizade de todos...
Obrigado aos “Fazedores de Chuva”... vcs se revelaram especiais e me sinto orgulhoso de já ser chamado de “FC”...
Já estou combinando com Hans de fazer o trecho final que me falta... (depois, em e-mails pessoais quero agradecer a todos de um por um).
Alexandre obrigado por tantas informações e todo o cuidado dedicado... é bom demais fazer parte dessa família...
Obrigado aos amigos de Tocantins, Goiás, São Paulo e outros estados que depois também agradecerei de um por um...
Abraços a todos
E ate mais...


Pneus arriados em Arriaba


Meu povo querido da garupa, quando achava que nossa aventura já estava do encerramento para o fim, e que dentro de cinco dias estaríamos tomando um vinho e fumando o charuto que comprei na região do Mar do Caribe para comemorar a conquista, já acomodados em Nova Orleans, e ainda curtindo ao ver Hans no colo de sua amada, porém, nessa auto-estrada muito boa do México, onde andávamos a 120 km/h, me sentindo quase vitorioso, arriscando ate um grito de desabafo tipo: “Yuruuuuu!”... por chegar ate aqui nessa aventura, que como dizem os “Fazedores de Chuva”, “todos podem fazer, mas poucos fazem”, e só agora entendo direito essa frase, pois definitivamente não é fácil e se trata de coisa pra “macho”, foi ai que a nossa boa sorte, nos apronta mais uma de suas travessuras, pra adiar em três dias ou mais nossa jornada.

Após andarmos 100 km da fronteira com a Guatemala, parando em uma gasolineira para abastecer e tomar uma agua, um curioso nativo, mandado também por nossa “Boa Sorte”, nos fez tardiamente confirmar que o pneu traseiro da minha “Negona”, estava na lona.

Assim como aconteceu com Gold Wing, perto de Sobral no Ceará, nos observávamos sempre o pneu dianteiro, por ser mais fácil de ver, e esquecíamo-nos do traseiro, que esta sob para-lamas fechados, e alforjes laterais camufladores, e que por serem o pneu da tração e suportar mais peso, consequentemente gastam-se mais rápidos, e como baseávamos no dianteiro, que apresentava mais de meia vida ainda por rodar, fomos surpreendidos novamente por nossa inexperiência e comodismo.

Restava-nos fazer como no Ceará, ir devagar para trás ate “Tapachulla” a 100 km, ou para frente ate “Arriaba” a 180 km, no ímpeto de seguir sempre adiante, cometemos nossa segunda falha, pois mesmo com muito cuidado, e andando a 80 km/h, depois de andarmos mais de 100 km, e faltando 50 km pra nosso destino previsto, escutei um tiro perfeito e vi minha Boulevard arriar a traseira “cansada de guerra”.

Hans parte velozmente pra ir buscar socorro e o velho violeiro aqui, depois de fazer um “xixizinho” aguando as relvas verdes, dos campos de “Pacho Villa”, conformadamente pego minhas câmeras, registro tudo e olhando em volta, torcendo pra encontrar uma casa onde pudesse tomar pelo menos uma agua, pois estávamos ate àquela hora, que já se passavam das 17:00hs, somente com o café da manhã, avistei a uns 100 metros o meu oásis.

Dessa vez não gritei como em Roraima o prefixo nordestino pra me receberem sem medo, mas ao ver um senhor sem camisa, e com o bigodinho tradicional dos “Muchachos comedores de tortillas”, sair de dentro da casa meio desconfiado, olhando meio de lado a figura do “Zorro Tupiniquim”, com suas roupas pretas de couro, já gritei de longe apontando pra entrada: - “Com su permisso”, quando o vi abrir um sorriso acolhedor e responder: “Bienvenido”.

Não só fui “bienvenido”, como folgado que sou, quando me permitem, folgado que nem colarinho de palhaço, fui pedindo agua, tirando fotos, contando historias, sentando na rede, conhecendo o genro do Senhor “Álvaro”, que era meu anfitrião, sua mulher, filhas, netos, duas ovelhas e um carneiro, um cachorrinho muito chato de nome “Lupe”, que não parava de latir no meu pé, fui mostrando fotos, vídeos de minhas canções em meu lap top, e depois de me ajudarem a empurrar a moto para frente da casa eu os ajudei a alimentar os porquinhos no chiqueiro lamacento e fedido. Mas todo mundo feliz e íntimos.

Enquanto curtia a rotina e o estilo da vida de uma família típica mexicana, vi um carro parar na frente da casinha do Sr. Álvaro, e descer um rapaz de nome “Ulisses”, que ao ver minha moto parada na estrada, voltou pra ver se eu precisava de algum socorro, pois se tratava de um componente de um moto clube da cidade de “Tuxtla”, e que deixou seus contatos, dizendo que se não encontrássemos o pneu, e precisássemos de sua ajuda, nos traria um pneu usado, da moto de um de seus parceiros, para podermos chegar onde encontrássemos um novo. Anotou as medidas do pneu da Boulevard, trocamos endereços e cordialidades dessa “Tribo Fraterna do Motociclistas”, e seguiu viagem.

Pouco mais de três horas depois, já noite escura e sozinho, sentado em uma cadeira emprestada por Sr. Álvaro, na beira da estrada, de olho na chegada de meu parceiro, avistei as luzes giratórias de um caminhão guincho e logo adivinhei que seriam as luzes do final desse túnel que me encontrava.

Nossa senhora de Guadalupe”, com olhar benevolente e sereno, me acolhia do adesivo no vidro traseiro do caminhão, quando iluminada pelo farol da Boulevard, que “mancando”, subia a rampa inclinada da carroceria do reboque, e sentado ali em cima, junto com um ajudante também de nome “Álvaro”, mais sujo, mais suado, fedido, mas certamente não mais com fome que eu, fomos viajando, tendo acima de nos um céu nublado, e a companhia de uma lua crescente, tímida mas muito bonita em seu leito negro de nuvens carregadas, da minha primeira noite mexicana. Hans seguia na frente junto com o motorista com cara de bravo, malvado e preocupado.

Já considerando tudo parcialmente resolvido, e torcendo pra encontramos logo, um pneu nas cidades vizinhas, de repente o caminhão para, e somos abordados pelo exercito mexicano que nos dá aquele “baculejo”, me fazendo abrir toda bagagem da moto e conferindo os documentos.

A fome apertava cada vez mais, quando chegamos e entramos em Arriaba, e fomos direto pra uma oficina onde Hans tinha encontrado apoio, o contato do Guincho e a promessa de nos auxiliarem no dia seguinte a encontrar o pneu, e ainda nos levaria a um hotel em sua caminhonete, que na saída, onde já me encontrava sentado dentro, finalmente achando que iria tomar meu banho e comer algo, o “Cucaracha”, grita aos amigos na oficina sorridente: “no tengo Luz”, lá se vão eles com caixas de ferramentas e lanternas, abrir o capo da caminhonete velha, e fazer a famosa gambiarra nos faróis apagados não no “jeitinho brasileiro”, mas no igual “jeitinho Mexicano”. Hans em sua moto atrás, esperando também pra sermos conduzidos ate um hotel.

Finalmente andando nas ruas animadas dessa cidadezinha, passando por um parquinho daqueles de interior com roda gigante, carrossel e barraquinhas apinhadas de gente, cidade essa que Hans esteve em 1957, quando fez uma viagem também em caminhonete, de Nova Orleans ate a Costa Rica, e nesse lugar acabavam as estradas e ele teve que colocar seu veiculo no trem de ferro (Ferro Carrill), ate a Guatemala.

Hans nos seguia atrás, e finalmente iriamos descansar depois das tantas e fortes emoções do dia e da noite. De repente o nosso guia olha pra trás e diz que meu amigo havia virado em outra rua seguindo outra caminhonete, pronto, Hans havia se perdido, lá estávamo-nos, rodando o centro da cidade atrás de uma Gold Wing perdida.

Depois de alguns minutos desistimos e resolvemos voltar à oficina, pois lembrei que Hans havia pegado um cartão com endereço e fones do lugar, e quando chegamos, a esposa do nosso amigo dizia que ele estava em um hotel nos esperando.

Era uma quinta feira de noite, e nesse hotel estamos ate hoje domingo, esperando o pneu que encomendamos da Capital, e que dizem que chagará amanhã, e quem sabe partiremos logo que o montarmos, e esperando que a “Boa Sorte”, continue nos brindando com aventuras, emoções e alguns sustos sem nos causar danos sérios e comprometedores.

Só uma coisa me incomodou nessa historia toda, no final da viagem, Hans terá percorrido 50 km a mais que eu nessa conquista...

Quer dizer 30.000 km a mais...

Ou melhor 750.000 km a mais que é o que ele tem em seu currículo...

Quer saber, perto dele, “eu sou um bostinha mesmo”...

Guatemala e México


Ainda em El Salvador, notamos que era época de eleições e a poluição visual com out-doors, por todo lado, era incomoda e feia, cartazes de todo tipo com frases tentando ser cada uma a mais criativa, como iscas e armadilhas pra enganar e pescar os pobres eleitores.

Em uma placa isolada, no meio da selva de gigantes e caros letreiros, certamente pagos com dinheiro publico ou de empresários investidores com suas coleiras prontas e armadas, pra serem colocadas nos pescoços dos “futuros” donos da “chave do cofre”, passei rapidamente por uma, e me arrependo de não ter fotografado, achando que veria outras, mas uma placa corajosa e atrevida que se me lembro bem, dizia: “Los políticos san uma mierda, los estamos Fartos”...

Esses países da América Central são tão pequenos, que os habitantes tem uma limitação mental em calcular distancias, e agora entendo mais, por que das repostas irritantes quando perguntamos a distancia entre lugares, e nos respondem não em quilometro mas em horas.

Acredito agora, que é por conviverem com distancias tão pequenas, e sendo assim, eles não interessam muito por terras além de 500 km em media, e como suas estradas na maioria são curvas, ruins e montanhosas, não importa tanto os quilômetros mas o tempo que se gasta pra atingir de um ponto a outro.

Na fronteira da Guatemala com o México, saímos envaidecidos, com o ego massageado, e nem reclamamos do serviço, quando a funcionaria da migração, ao olhar nosso passaporte e conferir nossa idade, nos perguntou cordialmente: - “lo que comem”? Então respondi, também perguntando o por que da pergunta, e ela completou: - “Por su idades”...

Saiam da Guatemala e entravam no México, felizes e rejuvenescidos, dois “Velhos Índios Apaixonados”, velhos mas “com corpinhos de 20”...

Pessoas de sorte


Estávamos conversando, aqui parados, no hotel, nesse descanso forçado de três dias, Hans e eu, enquanto aguardamos o pneu novo que compramos pra minha moto, vir da “Cidade do México”, que deve chegar amanha segunda feira (Lunes), mas conversando um assunto atinente a tanta sorte que temos tido nessa viagem, seja com pessoas prestativas e amigáveis que temos conhecido e muito nos auxiliados, seja com acontecimentos que nos fizeram aprender lições e curtir a viagem, nos tantos perigos que passamos e nos riscos que corremos e saímos ilesos, mas cheios de historias pra contar, e enfim, em tudo que vocês tem vivido e acompanhado em nossa garupa.

Comecei então, a trazer essa ideia também para a vida, e pra acontecimentos que tem me feito meditar.

Todos nós, no ímpeto de ajudar pessoas, vamos trazendo pra nosso convívio, muitas das vezes, gente fracassada, sofrida e que necessitam de apoio, ou quem sabe, de uma mão amiga pra lhes ajudar a sair de buracos, pois quando nos encontramos nessa situação, para receber uma mão que nos ajude a ser içado, é raro, porém outros, pra piorar nos empurrando ao fundo, são muitos.

Então podemos concluir que esse “auxilio” ao próximo deve ser dado “sem envolvimentos íntimos”, pois cada um tem sua própria cruz para carregar, e se tentarmos ser os salvadores do mundo, querendo carregar fardos e cruzes dos outros, agindo assim, não só iremos atrasar nosso crescimento e evolução, como estaremos atrasando também, a caminhada pessoal e intransferível, desses nossos amigos necessitados, igual ou mais que nos.

Esse pensamento já é conhecido e pregado por ai, em diversas doutrinas e religiões, mas o que quero acrescentar é um pouco mais, acredito agora, mais que nunca, que devemos nos aproximar e conviver na medida do possível, e o mais próximo possível, seja como grandes amigos, colaboradores, sócios em negócios, empreendimentos e ate na intimidade de nossa casa e em nosso lazer, “COM GENTE QUE TEM SORTE”...

Vamos analisar, no convívio com os futuros amigos que a vida vai nos apresentando, o histórico e o “coeficiente de sorte”, de cada um, entendendo quais níveis se sintonizam com os nossos, e se possível, embrenhar-se nos meios daqueles que tem ate mais sorte que nos.

Assim, em uma lei natural de “ATRACAO”, e troca de energias, vamos-nos “magnetizando” de bons fluidos, e consequentemente, e com muita sorte, vendo as coisas dando certo em nossas vidas.

Não faço aqui, alusões a grupos privilegiados, nem à exclusão ou separação de classes, mas entendendo que, assim como tudo que é feito e movido por “ENERGIA”, a “Sintonia” deva existir, e naturalmente acontece uma troca justa, onde a capacidade de cada um, em dar e receber cargas energéticas semelhantes cria uma relação equilibrada, positiva e VITORIOSA.

Digo um pouco mais, sorte não é privilegio ou exclusividade de quem nasce com ela, isso não existe, ninguém “já nasce com sorte”, você a “atrai”.

Nem é uma questão de dinheiro e posses, estamos cansados de ver gente muito rica e totalmente azarada e infeliz, como também pessoas simples, pobres, mas que, em sua riqueza cultural, moral e de conhecimentos, nem que sejam conhecimentos populares, passados de pai pra filho, serem totalmente “arrebatados de boa sorte”...

Sorte é uma questão de “concentração, propósitos, autoconhecimento e conquista de liberdade”. Assim, livres e confiantes em si mesmo, começamos a criar o ambiente ideal e propício pra receber a visita, e a permanência sempre crescente, não só de outros semelhantes, mas principalmente da companheira dos felizes, da força universal conspiradora, a tão sonhada e esperada “SENHORA DADIVA DA SORTE”...

Portanto, meus amigos da garupa, pedindo desculpas por tantas divagações, deixo uma convocação, desse exemplo, não de um cara “milionário de dinheiro ou ate de amigos”, pois hoje o meus dois são poucos mas suficiente, mas de um violeiro de “boa sorte”.

Ajudemos os necessitados a sofrerem menos, vamos tentar ajuda-los ate mesmo a tentar atrair sorte, com ajuda material, ou então no carinho de um abraço, mas mantendo a distancia ideal, de sua intimidade, distancia que te proteja da contaminação da energia negativa, e sobretudo: “VAMOS NOS UNIR HOMENS DE BOA SORTE”... E O MUNDO E A FELICIDADE SERÃO NOSSOS “...

Continuando a caminhada...


La Cucaracha, la Cucaracha, ya no puede caminhar, porque no tienne, porque le falta
una “LLANTA” pra Rodar.”
(“Llanta”, em espanhol significa Pneu).

Estamos agora subindo as curvas de uma montanha que margeia o Pacífico, cruzando El Salvador, já próximo da fronteira com a Guatemala, é uma parte muito bonita da viagem, onde de um lado, paredões de pedra talhada e tuneis rústicos e sem acabamento, e do outro lado, as aguas escuras, calmas e frias desse Oceano, e uma estrada que vai serpenteando, subindo e descendo as encostas.

De vez em quando entramos em pequenos “Pueblos”, repletos de pousadas e hotéis de todos os níveis, me fazendo concluir que essa deve ser uma região de muita rotatividade turística.

Fui lembrando aos poucos, de quando passamos por aqui, na viagem de 2002. Lembrei-me do hotel na margem esquerda da Pan Americana, de um restaurante dependurado numa dessas encostas, onde olhando para o mar, passamos bons momentos, e paramos dessa vez também, pra tirar umas fotos e apreciar um pouco esse visual incrível.

Cruzamos com mais um aventureiro e aquele aceno irmão, dos estradeiros, se fez como em nossa vida de aventureiros: “firme, veloz e sincero”.

Em uma dessas curvas bem fechadas, onde nossa velocidade fica muito reduzida, observando Hans à minha frente, notei um velhinho que caminhava com suas roupinhas esfarrapadas e sujas, como são as da maioria dos agricultores, que lidam com a terra, e ainda acompanhado, com o sempre seguro e útil facão longo e afiado nas mãos. 

Passando por esse camponês, a Gold Wing solta aquele rugido forte, pelo esforço do motor com seus seis cilindros, por estar subindo a montanha, e empurrando morro acima, sua carga de quase meia tonelada entre peso da moto, piloto e bagagem. Noto o velhinho parar, virar o corpo pra trás e ficar observando impressionando, e imaginei naquele momento, seus pensamentos lhe questionando assim: “o que mais tem de tão diferente nesse mundo, que eu nunca vi ou irei ver”...

Escuto também a gigante, cantando de seus alto-falantes: “Luna que se quebra, sobre la tiniebla, de mi soledad, a dónde vas? Dile que la quiero, dile que me muero, de tanto esperar. Que las rondas no son buenas, que hacen daño, que dan penas, Y que acaban por llorar”...

El Salvador e Guatemala


Tivemos também um grande atraso do lado da “Aduana” de El Salvador, depois de ficarmos em uma fila esperando nossa vez de sermos atendidos, e preenchidos os formulários necessários e esperado a paciente e morosa funcionaria publica (todos iguais no mundo, só muda o endereço), finalizar as importações temporárias e a autorização pra transitar em seu pais, vieram com uma comunicação que teríamos 24 horas pra cruzar o país senão teríamos que pagar uma multa alta. Hans imediatamente protestou e não queria mais conversa, eu fui mais diplomático e fui mostrando a incoerência dessa norma e quando ela me perguntou de onde eu era respondi: “- Do Brasil, assim como sua primeira Dama a Senhora Vanda Pignato, que tenho certeza que não concorda com esse tratamento dispensado a seus conterrâneos”... As coisas foram resolvidas e nos deram um visto de turista de três meses.

Cruzamos o país adotivo da minha “conterrânea petista”, e dois dias depois já estávamos entrando na Guatemala. Evitamos passar por San Salvador, a capital e fomos dormir em San Miguel, ladeado nas estradas, pelas mesmas paisagens e plantações dos outros países do “Centro América”.

Na Guatemala também, as estradas viram ruas, que viram praças, que viram centros comerciais de aglomerados populares, em feiras livres e tumultuadas, que voltam a virar ruas, estradas, avenidas e assim, a “farra latina”, vai acontecendo por onde passamos, onde quem manda é a rotina e o estilo de vida da população.

Em uma dessas balburdias populares, de gente de todo tipo, tentando encontrar de novo a famosa “Pan Americana”, que havia virado cidade e praça, observava mais uma vez, o meu parceiro na frente, tentando pegar informações debruçando desajeitadamente, ao mesmo tempo em que mantinha sua gigante e pesada Honda em equilíbrio, sobre janelas de carros parados em sinais e estacionamentos, sem tirar a bandana que usa sobre o rosto, como um bandido usava nos velhos filmes de bang-bang americano, e sem tirar também o capacete e ainda ficando impaciente quando as pessoas não o entendiam, eu ficava incomodado sem saber como ajudar e mantinha ali atrás minha paciência e respeito ao estilo do meu guia.

Foi assistindo uma dessas cenas, que me lembrei, emocionado, que em setembro de 2002, fui vendo entrar em um restaurante, no posto de gasolina de meu amigo Renato Brasil na cidade de Pugmil no Tocantins, e justamente assim, para pedir informação de caminhos, que fiquei conhecendo esse “Gringo” e ali, daria inicio a uma amizade com o extraordinário ser humano de nome Hans Ragnar Karlsson que mudaria a minha vida, e continua mudando ate hoje.  

Aprendendo sempre que, mais que eu deva ter cuidado e respeito com as diferenças de ideias e modos de agir, causadas tanto pelos choques de geração e de cultura, mas muito mais paciência e tolerância, tem de ter e praticar, meu parceiro com relação a mim, por ver alguém que só viveu a metade de sua experiência de vida, e às vezes achar, com meu ímpeto e arrogância típicos da juventude, que sei tudo, e sou o dono da razão.

Mais uma vez, obrigado velho amigo por tudo isso e muito mais que ainda vou aprender com você.

Minha gente eu vim de longe, estou aqui cansado e só
Tenho muito prá contar, do que vi, por onde andei,
Das estradas dos caminhos, dos lugares que passei,
Tô chegando e trouxe pouco, porque muito eu não ganhei,
Trouxe forças pra lutar, por um bem que já se fez,
Trouxe uma vontade imensa, de ficar de uma vez,
Trouxe um canto e um desencanto, e um sorriso que consola,
Muito amor dentro do peito, pouca coisa na sacola,
Trouxe o cansaço da vinda, de quem anda a pé e só,
E uma viola sofrida, pendurada no paletó...” 
(Paulo Diniz)

O Deus Vulcano


Mais de 100 km após Managua, uns 60 km depois de Leon, apareceu na minha esquerda um grande vulcão, soltando uma fumaça densa e branca de sua cratera. Como se trata de uma paisagem muito diferente e anormal para esse “Boiadeiro”, que aqui vos fala, fiquei alguns minutos hipnotizado, observando enquanto ele ia crescendo ao aproximarmos, sempre impressionado com aquela manifestação da natureza e do planeta, como se fossem “furúnculos”, em erupção na “Tez terrestre”.

A erupção de um vulcão pode resultar num grave desastre natural, por vezes de consequências planetárias. Assim como outros desastres dessa natureza, as erupções são imprevisíveis e causam danos indiscriminados. Entre outras coisas, tendem a desvalorizar os imóveis localizados em suas vizinhanças, prejudicar o turismo e consumir a renda pública e privada em reconstruções. Por outro lado, os arredores de vulcões, formados de lava arrefecida, tendem a ser compostos de solos bastante férteis para a agricultura.

A palavra "vulcão" deriva do nome do deus do fogo na mitologia romana Vulcano.

Mesmo depois de vê-lo passar, e ficar às minhas costas, não conseguia parar de sentir a sua presença me observando por trás, e de vez em quando conferia no retrovisor a sua imagem imponente e ameaçadora, ali, monitorando minha passagem por seu território, como se me dissesse a todo instante, que eu tivesse respeito e cuidado, pois deixava bem claro quem é que mandava no pedaço.

Ainda na fronteira com Honduras, fiquei sabendo por um nativo, que a me ver com a camisa da seleção Brasileira de Futebol, começou a falar desse esporte que tanto nos orgulha e leva uma imagem positiva do nosso Brasil por todo mundo, como estou a 50 dias sem ver TV e sem noticias da minha terra, o rapaz me contou que o Ronaldinho havia feito nessa semana um lindo Gol Olímpico, e foi a melhor noticia do dia e não deixei de sentir o amor que todo Flamenguista possui, e o orgulho de ser rubro negro “ate morrer”. No outro dia eu já viajava com a minha camisa do “Mengão”, corrigindo, camisa não; “MANTO SAGRADO”.

Começaram a aparecer nas margens das estradas, nos acostamentos, quilômetros de milho espalhados, seja em grãos ou ainda em sabugos, secando e com seus proprietários esparramando com os pés ou grandes pás de madeira. Essa cena ainda continuaria ate El Salvador, confirmando o que eu iria concluir, ate mesmo depois de passar por Guatemala, que esses países da América Central são muito parecidos em tudo, paisagem, costumes, alimentação, tipologia etimológica e principalmente na pobreza desses camponeses. Entrevistei um desses quando passava pelo interior de El Salvador.

Mas a “cambio de la pobreza”, esses nativos demonstram uma gentileza e um espirito amigável, sempre puxando conversa animada e simpática, e nos acenando ao passamos por todos nas “Carreteras”.

Interessante, como vai se criando um código moral em nos motociclistas mundiais, (adorei ser chamado assim pelo “Fazedor de Chuva”, Dolor), em ter quase que, como se fosse uma “lei das estradas”, esse compromisso de sempre responder a esses acenos tanto das pessoas quanto dos outros companheiros motociclistas que eventualmente vamos cruzando pelo mundão a fora. E me lembro do Tio Bira de Palmas, meu exemplo de dedicação espiritual, quando me dizia que devemos sempre que encontrar alguém em nosso caminho, em nossa vida normal, seja em casa quando acordamos, seja na rua, nos bancos, no transito, no trabalho, enfim, sempre que encontrarmos ou cruzarmos com outro ser humano, desejar um sonoro, alegre e sincero “Bom Dia”, mas um bom dia verdadeiro, não pra cumprir formalidades, desejando realmente que aquele irmãozinho tenha um “BOM E AGRADAVEL DIA”.

Aparece mais uma Montanha no horizonte, mas a estrada passa por um “furo” baixo entre elas e continuamos em direção a El Salvador. Ao ver passar um carro de modelo diferente, lembrei-me que no começo da viagem, quando entramos pela Venezuela, nosso primeiro país dessa jornada, a novidade desses carros de marcas e modelos tão diferentes dos que estamos acostumados a ver no Brasil, chamava muita atenção, e que agora, já depois de vários dias vendo tantos carros diferentes, já não mais notamos nem despertavam meu interesse em analisa-los. Fazendo-me novamente traçar um paralelo da viagem com a vida cotidiana de todos nos, onde a monotonia do cotidiano nos torna cego e insensíveis às coisas simples, como observar a natureza, as crianças, os animais, uma flor, um por de sol, coisas cotidianas e naturais, mas que no contexto geral, são elas que nos permitem momentos de alegria, prazer e são elementos primordiais para vivenciarmos aquele conhecida máxima de: “viver intensamente cada dia como se fosse o ultimo”.

Fomos parados mais uma vez por uma barreira policial, após termos sido também parados a menos de 1 km atrás por outra, e isso já estava começando a nos irritar, e quando vi Hans meio nervoso e impaciente, enquanto tirava o capacete, o policial veio primeiro a mim, que já estava sem o meu, e antes que dissesse algo eu rasguei em meu “portunhol”, tentando comunicar que havíamos acabado de ser fiscalizados logo atrás, quando o oficial, em tom ríspido, me perguntou: - le molesta cuándo lo paro?, 

Eu me levantei, deixando o pequenino fardado, descendente indígena, bem abaixo dos meus olhos, e concluí que não me molestava, apenas demonstravam, agindo assim, uma desorganização e uma perda do tempo dele e do nosso, falei isso também serio e em tom firme olhando em seus olhos e com meus documentos em mãos, lhe apresentando, antes que ele me pedisse. Ele, num misto de raiva e despreparo, e sem ver meus documentos arrematou: “- adelante”. Virou as costas para nos e com sua metralhadora velha e descascada balançando a tira colo, saiu abrindo caminhos entre umas seis ou sete vacas, que nesse exato momento atravessavam calmamente o asfalto, deixando rastros de fezes e sujeiras na área de trabalho dessas pobres “autoridades”.

Perto de nossa meta...


Oh, que estrada mais comprida, que légua tão tirana, ai, se eu tivesse asa, Inda hoje eu via Ana.
Tô voltando estropiado, mas alegre o coração, varei mais de vinte serras, alpercata e pé no chão.
Mesmo assim, como inda farta, pra chegar no meu rincão.
Trago um terço pra das dores, pra Reimundo um violão
E pra ela, e pra ela, trago eu e o coração “... (Gonzagão).

Um dos sintomas que nossa aventura esta chegando ao final, que estamos quase pra completar nossa meta, é quando, ao sermos questionado pelas pessoas, ao pararmos em algum lugar, seja pra abastecer ou na porta de hotéis e nos perguntam para onde estamos indo, e ao dizemos que é pra os Estados Unidos, não mais perceber o espanto ou a surpresa das pessoas. Sinal que estamos pertos, que daqui onde estamos, já não é mais uma distancia impressionante. 

Porém, depois de chegar à Nova Orleans, ainda tenho mais um trecho importante pra concluir pois terei que embarcar minha moto em um avião em Miami, e teremos que ir rodando ate lá, e depois de descer em São Paulo, rodar sozinho ate Palmas por mais de dois mil quilômetros. Portanto ainda temos vários dias de companhia e “Garupa”.

Voltando onde paramos, depois de sairmos da Cidade de Leon na Nicarágua e passarmos pela fronteira, também muito conturbada e pobre com Honduras, perder mais 3 horas de tramitação com os documentos de sempre, cruzamos os 150 km ate a próxima fronteira com El Salvador, observando também e igualmente a mesma pobreza e sofrimento do povo desses pais, assim como no anterior.

Apesar de ver terra boa, muito verde, continuam as plantações de frutas e cereais, mas propriedades pobres, muitos animais na pista, soltos e pastando nas margens da rodovia, aqueles “Ciclos Táxis”, por todo lado e as tradicionais “Jardineiras”, coloridas, antigas, mas pobres.

Caminhos errados, abandonados e ruins


Na área urbana da capital Managua, mais uma vez com tanta conturbação, fomos erroneamente instruídos a pegar uma estrada, que diziam nos conduzir a fronteira com El Salvador, e depois de andar uns 20 km, a estrada simplesmente foi desaparecendo e os buracos como verdadeiras crateras tomando conta, e íamos diminuindo nossa velocidade ate ficar andando a 20 km/h, e era tarde pra voltar, pois além de ter caminho ruim de volta, ainda não sabíamos quanto restava pela frente, e foi quando Hans se encontrava parado, descansando um pouco de tanto lutar pra livrar-se de buracos, que passou e parou um senhor numa caminhonete e ficamos sabendo que havíamos pego a estrada velha e abandonada, mas que restavam apenas mais 20 km e melhoraria.

Foi preciso mais de 1 hora para andar esses poucos quilômetros e éramos sempre observados, por camponeses pobres e esquecidos, daquelas paragens desertas, impressionados com as maquinas, e provavelmente desentendidos do por que, daqueles dois “Extras Terrestres”, estarem por aquelas bandas. Com certeza também se divertiam rindo da nossa cara por concluírem que estávamos perdidos. Fotografei e mando pra vocês um casal, companheiros de solidão que nos observavam nessa situação.

Chegamos à pequena e histórica cidade de Leon, onde na porta do charmoso e antigo hotelzinho de nome “Balcones”, tive também a sorte de entrevistar um senhor nativo da região que me contou a importância de sua cidade como lugar de guerreiros e revolucionários. Então perguntei: - guerra contra a escravidão e pela liberdade? E imediatamente Hans entrou na conversa e completou: - ou guerra contra os tantos ditadores? Ele prontamente respondeu: - “Contra los dos por ser inimigos iguales“...

Do lado esquerdo, sempre a oeste, as aguas do Pacifico novamente se faziam ouvir em ondas escuras e geladas.

Don Quixote de La Mancha e Sancho Pacinha


Na fronteira com a Nicarágua, na cidade de “Peñas Blancas”, fomos vendo a diferença e a desordem do pais que tínhamos pela frente, onde nos cobravam tudo, a fumaça mal batida nas motos com intuito de matar germes e pragas trazidas do outro pais, cobraram para carimbar o passaporte (coisa que em nenhum outro pais foi feito), cobraram seguro dos veículos e na saída quando achamos que tínhamos pago tudo possível ainda veio uma cobrança do governo municipal.

Passamos mais um bom par de horas envolvidos, e saímos querendo rodar pelo menos uns 300 km antes de anoitecer.

Observamos o lago de Managua, também conhecido como lago Xolotlán. Tem dimensões aproximadas de 65 por 25 km, e uma profundidade média de 9,5 metros (atingindo máximos da ordem dos 39 metros). A capital da Nicarágua, Manágua, está situada na margem sudoeste deste lago.

Este lago foi fortemente poluído, em parte pelas descargas de mercúrio feitas pela Kodak na década de 1950. Apesar da poluição, parte da população de Manágua ainda vive junto ao lago alimentando-se do seu peixe. A alimentação das águas do lago é feita pelos rios Sinecapa e El Viejo.

O nível das suas água subiu 3 metros em 5 dias durante o furacão Mitch em 1998, destruindo as casas de muitos daqueles que habitavam as suas margens.

O lago Manágua comunica com o muito maior lago Nicarágua cujo nível se encontra nove metros abaixo, através do rio Tipitapa. A ligação entre os dois lagos havia sido interrompida em 1910 devido a uma descida do nível das águas do Manágua, mas foi restabelecida em 1998 devido aos efeitos do furacão Mitch.

Mais a frente, apareceu aquele espetáculo sempre muito bonito, de uma “Floresta de Cata-ventos”, aqueles gigantescos aparatos para captar energia eólica, que nos causa um encantamento mágico, com aquelas pás imensas lentamente girando e girando sem parar, me fazendo sentir ainda mais, na condição, que eu já me peguei sonhando em minha alma metida a poética, comparando algumas vezes, como se Hans e eu, fossemos uns tipos semelhantes aos personagens de Miguel de Cervantes, os intrépidos sonhadores e lutadores do bem “Don Quixote de la Mancha” e seu fiel escudeiro “Sancho Pança”, que em nosso caso, devo ser eu o segundo, porem com a pança diminuída, pois já emagreci 2 quilos nessa viagem, e deixando pro meu “Don Hans” o lado mais realista e guardando sempre comigo, o “sonhador”.

Digamos que eu seja um “Sancho Pacinha”, mas com essa pança farta de sensibilidade e emoção, transbordando em desejos de levar boas energias e deixando marcas com os feitos desses “Cavaleiros da Triste Figura”. Porem, como já ouvi de algum poeta: “Estamos descobrindo que os Moinhos de Vento são reais”... E estão disfarçados por ai, nas formas bizarras de políticos corruptos, empresários inescrupulosos, falsos e interesseiros amigos, todos prontos para com suas “Pás Gigantescas”, como se fossem tentáculos cruéis da ambição e do poder, nos enganar e escravizar não somente nossas amadas “Dulcineias”, mas também a nos próprios, e a nossas vidas.

Viver na noite, me fez senhor do fogo. A vocês, eu deixo o sono. O sonho, não! Este eu mesmo carrego!"... (Paulo Leminski).

Mais adiante, seguindo na pobre e triste Nicarágua, sofrida com tantas lutas contra ditadores e revoluções, víamos sempre, nas estradas ruins e esburacadas, famílias inteiras com pás, baldes e carrinhos de mão, mostrando que estavam tapando buracos na esperança de receberem alguma ajuda, ou deveria chamar de esmola, por aquele trabalho no desespero, talvez por não terem outra opção de sobrevivência.

Tudo isso me constrangia muito de ver, como também era constrangedor testemunhar policiais nos parando de quilômetros em quilômetros, e humilhantemente também, mendigarem migalhas, com desculpas de que estavam precisando de dinheiro pra colocar créditos no celular ou pra abastecer suas motinhas velhas e decadentes. E toda essa cena vexatória e sem dignidade, piorava quando meu parceiro, com razão, se recusava a alimentar e contribuir com aquele estado de degradação humana e víamos assim, eles ficarem com “cara de taxo” e mais humilhados pela recusa e não poderem fazer mais nada.

Começou a formar uma grande e pesada chuva no horizonte a nossa frente, quando passávamos por Managua, e paramos em um posto de gasolina pra abastecer e vi meu parceiro sacar de seu alforje de fibra de vidro da sua valente “Asa Dourada”, o poderoso “Macacão Mágico Parador de Chuvas”, que não parou a tempestade que iria cair, mas a transformou em poucos pingos esparsos e em uma neblina cerradíssima que nos atrasou um pouco a viagem, mas eu agradecia por não ser toda aquela chuva que ameaçava cair.

México


Além do horizonte deve ter, algum lugar bonito pra viver em paz, onde eu possa encontrar a natureza, alegria e felicidade com certeza. Lá nesse lugar o amanhecer é lindo, com flores festejando mais um dia que vem vindo, Onde a gente pode se deitar no campo, se amar na relva escutando o canto dos passarinhos"... (Roberto Carlos).

México, oficialmente Estados Unidos Mexicanos, localizado na América do Norte. O país é limitado a norte pelos Estados Unidos; ao sul e oeste pelo Oceano Pacífico; a sudeste pela Guatemala, Belize e Mar do Caribe; a leste pelo Golfo do México. Com um território que abrange quase dois milhões de quilômetros quadrados, o México é o quinto maior país das Américas por área total e o 14º maior do país independente do mundo. Com uma população estimada em 111 milhões de habitantes, é o 11º país mais populoso do mundo e o mais populoso país da hispanofonia. O México é uma federação composta por trinta e um estados e um Distrito Federal, a cidade capital.

Na Mesoamérica pré-colombiana muitas culturas amadureceram e se tornaram civilizações avançadas como a dos olmecas, toltecas, teotihuacanos, zapotecas, maias e astecas, antes do primeiro contato com os europeus. Em 1521, a Espanha conquistou e colonizou o território mexicano. (Viva la Wikipédia).

O México é uma das maiores economias do mundo e uma potência regional, O país ocupa o quinto lugar no mundo e o primeiro das Américas em número de Patrimônios e é um dos 10 países mais visitado do mundo.

Com relação à brincadeira que fiz, deixando vocês no suspense tentando adivinhar o que esta acontecendo com a gente dessa vez, dos “Garupeiros” que arriscaram palpite, o novo amigo Alexandre Evangelista, foi o que mais aproximou, pois estamos sem pneu pra minha moto desde quinta feira quando chegamos aqui em Arriaga, essa cidadezinha pequena no sul do México a 300 km da fronteira com a Guatemala.

Dessa vez foi minha “Negona”, que esta precisando de sapatos novos, mas vamos voltar a historia onde paramos na saída da Costa Rica, e conto mais adiante todo o drama desse acontecimento novo que mais uma vez nos faz ficar parados por no mínimo três dias, mas que me da chance nova de escrever mais relatos a vocês, pois já imaginava que só iria ter tempo, em Nova Orleans depois da nossa chegada e estava ate pensando em pedir ao Hans uma parada de um dia pra atualizar os relatos. MAIS UMA VEZ TENHO QUE TOMAR CUIDADO COM O QUE DESEJO.

Atravessamos o restante que faltava desse nosso segundo pais da América Central, sempre sendo presenteado com paisagens lindas, de muitas plantações de cana, banana, milho, ótimas estradas de duas pistas nos dois sentidos, pontes sobre aqueles rios que embora barrentos e rasos correndo velozmente sobre pedras, mas não deixando de ter sua beleza peculiar. Seriamos injustos se ficarmos comparando com nossos grandes rios profundos e de água limpa que temos no melhor pais do mundo, “O NOSSO BRASILZÃO”. E que estamos deixando descuidar.

Lembranças e mais gratidão


Gratidão”, para mim, é o mais nobre dos sentimentos elevados, o mais importante dos filhos do amor, e sempre ficava me perguntando o que fazer pra retribuir toda aquela gentileza que aquele estrangeiro me proporcionava, estrangeiro, mas não mais estranho, pois já havíamos convivido nessa intensidade, que é viajar juntos acordando e dormindo lado a lado, conversando sobre tudo e todos tanto da minha quanto da vida dele.

Como aconteceu também nessa viagem atual, estávamos descansando na casa de sua filha Patrícia, quando ao ouvi-los, colocando o papo em dia numa certa manha, depois do “Desayuno”, identifiquei um nome em meio a tantas palavras em espanhol, eles diziam de um tal “Hansito”, que a principio pensei se tratar de um apelido carinhoso da filha com o pai, mas fui desconfiando que fosse outra pessoa.

Nesses dois meses de convivência, eu acreditava saber quase tudo com relação à família do Hans, filhos, netos, amigos íntimos etc., pois como já relatei, havíamos conversado por mais de 60 dias, mas então, ao questionar meu parceiro sobre quem era esse misterioso “Hansito”, surpreso, fiquei sabendo que se tratava do filho mais velho de Hans, que era seu parceiro e sócio em negócios e que haviam se desentendido a três anos e nunca mais se falaram e ele também, jamais comentara comigo, como se o filho não existisse mais, inclusive que tinha um neto de quase três anos que não conhecia..

Naquele momento "me acendeu uma luz nas ideias" (como diz o caipira), e comecei a acreditar que estava ali uma forma de retribuir ao meu benfeitor, os presentes que estava ganhando, e com juntamente com minha sempre intuitiva tendência, a crer em “leis de atração” e “manipulação energética”, comecei a acreditar também que talvez essa, seria uma das razoes que nossos destinos teriam se cruzados. Comecei a acreditar piamente que uma das minhas “missões” na vida daquele homem bom, seria ajudar, de alguma forma “Pai e Filho”, se reencontrarem e fazerem as pazes, pois com certeza eram infelizes no tocante aquela situação.

Comecei então a trabalhar com habilidade e respeito, pra não ultrapassar minha liberdade de interferir na vida de meu parceiro em seus interesses e gostos pessoais, oriundos de seu estilo de vida e cultura, e sempre lembrando que “cada um sabe onde o sapato lhe aperta”. Sempre que tinha oportunidade, nesses três dias parados, eu voltava propor a possibilidade de irmos ate a cidade onde vivia Hansito, para fazermos uma visita e dizia ainda que; “nem que fosse pra só pedir um copo de agua como quem não quer nada”...

Depois de muito insistir, pensando estar fazendo minha parte, Hans firmemente pediu-me, que não mais tocasse nesse assunto pois ele era muito magoado com o acontecido e não havia essa possibilidade. Enfim, me calei porém não desisti, planejei que ao retomarmos a viagem, iria tentar uma ultima vez, pedindo a ele que entrasse na cidade quando a placa de sinalização me indicasse, no caminho o local.

Saímos de San José naquele mês de novembro de 2002, numa manhã chuvosa, e em uma parada pra abastecer, voltei a tocar no assunto propondo desviarmos nossa rota, pois a entrada da cidade, onde vivia Hansito estava próxima. Dessa vez Hans levantou a viseira de seu capacete, olhou em meus olhos e arrematou: - “siga seu caminho se quiser Diomar que eu seguirei o meu”. 

Sem dinheiro, sem falar direito o idioma local e totalmente inexperiente em viagens de moto e diante da possibilidade de ser abandonado, desconfiei que estivesse ali, o sinal, que não havia mais o que fazer, que minha parte “pratica”, havia chegado ao fim e que só me restava continuar “acreditando” e “atraído”, através da energia do pensamento, aquele sonhado reencontro familiar.

Andamos então aproximadamente 150 km de uma estrada molhada e cheia de curvas, quando meu “Walkie Man” (naquela época não tínhamos nem lap-top, nem Ipod), tocava uma fita cassete, com a voz da gaúcha Adriana Calcanhoto, dizendo: “nada ficou no lugar, eu quero quebrar os suas xicaras”... E não é que nada ficou no lugar mesmo! Ou melhor, as coisas começariam a ficar no lugar. 

Distraído com a canção, não consegui fazer a danada da curva, sai numa tangente freando, bailando e rumo a um capim e algumas arvores, com a moto apoiada em matas cachorros, de ladinho, deslizando deitada e eu ali por baixo esperando onde iriamos parar. Mais uma vez a sorte companheira me fez parar antes de chegarmos às arvores, e levantei-me então, com dores no joelho, e olhei pra minha moto que após quatro anos pagando prestações, acabava de tirar da concessionária, lá no chão, caída e pior ainda minha “viola magoada e companheira”, que viaja amarrada na lateral por baixo.

Sentei a beira do caminho, sentindo dores, sofrendo com o corpo e o coração e esperando que Hans desse logo a minha falta da suas costas e voltasse pra me socorrer.

Passado alguns minutos, que pareceram horas, e depois de ter descoberto que minha viola estava intacta, a moto apenas com pequenos danos, já mais calmo, principalmente por ver que meu ferimento era superficial, avistei aliviado, meu parceiro voltar e me ajudar a levantar a Suzuki avariada, e ali no acostamento, Hans sentado nela, tentava desempenar um pouco o guidão para voltarmos a San José.

Meu povo da garupa! O que conto a vocês tem Hans como testemunha, e mais algumas pessoas. Enquanto Hans tentava voltar um pouco o guidão e adaptar a embreagem quebrada para voltarmos e eu verificava, se havia perdido mais algo no tombo, quando de repente, uma caminhonete passa por nos, para em meio a uma freada brusca e comprida, dela sai um rapaz tão empolgado e apressado, que ao bater a porta pra fechar, acidentalmente aperta os dedos de uma criança que fica aos berros sentindo dor, e presencio então uma cena, que jamais sairia da minha mente e que muito me afirmou lições que devo sempre acreditar no que podemos realizar quando acreditamos de verdade, e mentalizamos com intensidade e principalmente acreditar cada vez mais nessa “energia de atração”.

Esse rapaz que desceu do carro vai ate Hans, gritando: - “Papito, papito!”, eu então aproximo por trás do rapaz agarrado ao pescoço de Hans que continuava sentado em minha moto, e por cima dos ombros do desconhecido, com olhos arregalados e surpresos me falava: - “é Hansito”...

Foram então momentos belos de paz e amor onde, além assistir o reencontro Pai e Filho de mesmo nome, ainda observei um “vovozinho” meio sem graça, mas carinhoso, conhecer e cuidar dos dedinhos machucados de seu netinho.
Jamais me considerei especial de alguma forma ou com poderes místicos e exotéricos, pois nem gosto dessas crenças e manias, também nunca contei essa historia, me considerando algum missionário ou com outro “Dom Espiritual Superior” qualquer, pois tenho muito cuidado em sempre ter doses de ceticismo e praticidade nesses assuntos, mas ao ver o que tanto mentalizei e desejava se realizar, onde minha energia ectoplasmatica, ou seja lá qual for, ter “Atraído” de alguma forma, mesmo que me usando numa situação fatal, esse reencontro, DESDE ENTAO TENHO, MAIS QUE NUNCA PROCURADO CRIAR E SEGUIR PROPOSITOS EM MINHA VIDA, COMO TAMBEM, E PRINCIPALMENTE, TER MUITO CUIDADO NO QUE MENTALIZO E DESEJO...

E confesso que tem dado certo, uma prova disso sou eu aqui novamente após nove anos passando pelo mesmo local e revivendo tudo e narrando a vocês com a mesma “Energia Atrativa”.

Pra finalizar esse relato, conto também que depois desse episodio, Hans nunca mais se reencontrou com Hansito e que na retomada da viagem, após concertar a moto em San José e passarmos por ali novamente, eu cairia uns 50 km adiante do local do primeiro tombo por causa dessa vez de uma freada no asfalto molhado tentando desviar de um buraco na pista, mas sem danos e nada mais a declarar.

Abraços a todos, e ate o próximo relato.