El Salvador e Guatemala


Tivemos também um grande atraso do lado da “Aduana” de El Salvador, depois de ficarmos em uma fila esperando nossa vez de sermos atendidos, e preenchidos os formulários necessários e esperado a paciente e morosa funcionaria publica (todos iguais no mundo, só muda o endereço), finalizar as importações temporárias e a autorização pra transitar em seu pais, vieram com uma comunicação que teríamos 24 horas pra cruzar o país senão teríamos que pagar uma multa alta. Hans imediatamente protestou e não queria mais conversa, eu fui mais diplomático e fui mostrando a incoerência dessa norma e quando ela me perguntou de onde eu era respondi: “- Do Brasil, assim como sua primeira Dama a Senhora Vanda Pignato, que tenho certeza que não concorda com esse tratamento dispensado a seus conterrâneos”... As coisas foram resolvidas e nos deram um visto de turista de três meses.

Cruzamos o país adotivo da minha “conterrânea petista”, e dois dias depois já estávamos entrando na Guatemala. Evitamos passar por San Salvador, a capital e fomos dormir em San Miguel, ladeado nas estradas, pelas mesmas paisagens e plantações dos outros países do “Centro América”.

Na Guatemala também, as estradas viram ruas, que viram praças, que viram centros comerciais de aglomerados populares, em feiras livres e tumultuadas, que voltam a virar ruas, estradas, avenidas e assim, a “farra latina”, vai acontecendo por onde passamos, onde quem manda é a rotina e o estilo de vida da população.

Em uma dessas balburdias populares, de gente de todo tipo, tentando encontrar de novo a famosa “Pan Americana”, que havia virado cidade e praça, observava mais uma vez, o meu parceiro na frente, tentando pegar informações debruçando desajeitadamente, ao mesmo tempo em que mantinha sua gigante e pesada Honda em equilíbrio, sobre janelas de carros parados em sinais e estacionamentos, sem tirar a bandana que usa sobre o rosto, como um bandido usava nos velhos filmes de bang-bang americano, e sem tirar também o capacete e ainda ficando impaciente quando as pessoas não o entendiam, eu ficava incomodado sem saber como ajudar e mantinha ali atrás minha paciência e respeito ao estilo do meu guia.

Foi assistindo uma dessas cenas, que me lembrei, emocionado, que em setembro de 2002, fui vendo entrar em um restaurante, no posto de gasolina de meu amigo Renato Brasil na cidade de Pugmil no Tocantins, e justamente assim, para pedir informação de caminhos, que fiquei conhecendo esse “Gringo” e ali, daria inicio a uma amizade com o extraordinário ser humano de nome Hans Ragnar Karlsson que mudaria a minha vida, e continua mudando ate hoje.  

Aprendendo sempre que, mais que eu deva ter cuidado e respeito com as diferenças de ideias e modos de agir, causadas tanto pelos choques de geração e de cultura, mas muito mais paciência e tolerância, tem de ter e praticar, meu parceiro com relação a mim, por ver alguém que só viveu a metade de sua experiência de vida, e às vezes achar, com meu ímpeto e arrogância típicos da juventude, que sei tudo, e sou o dono da razão.

Mais uma vez, obrigado velho amigo por tudo isso e muito mais que ainda vou aprender com você.

Minha gente eu vim de longe, estou aqui cansado e só
Tenho muito prá contar, do que vi, por onde andei,
Das estradas dos caminhos, dos lugares que passei,
Tô chegando e trouxe pouco, porque muito eu não ganhei,
Trouxe forças pra lutar, por um bem que já se fez,
Trouxe uma vontade imensa, de ficar de uma vez,
Trouxe um canto e um desencanto, e um sorriso que consola,
Muito amor dentro do peito, pouca coisa na sacola,
Trouxe o cansaço da vinda, de quem anda a pé e só,
E uma viola sofrida, pendurada no paletó...” 
(Paulo Diniz)

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