O Deus Vulcano


Mais de 100 km após Managua, uns 60 km depois de Leon, apareceu na minha esquerda um grande vulcão, soltando uma fumaça densa e branca de sua cratera. Como se trata de uma paisagem muito diferente e anormal para esse “Boiadeiro”, que aqui vos fala, fiquei alguns minutos hipnotizado, observando enquanto ele ia crescendo ao aproximarmos, sempre impressionado com aquela manifestação da natureza e do planeta, como se fossem “furúnculos”, em erupção na “Tez terrestre”.

A erupção de um vulcão pode resultar num grave desastre natural, por vezes de consequências planetárias. Assim como outros desastres dessa natureza, as erupções são imprevisíveis e causam danos indiscriminados. Entre outras coisas, tendem a desvalorizar os imóveis localizados em suas vizinhanças, prejudicar o turismo e consumir a renda pública e privada em reconstruções. Por outro lado, os arredores de vulcões, formados de lava arrefecida, tendem a ser compostos de solos bastante férteis para a agricultura.

A palavra "vulcão" deriva do nome do deus do fogo na mitologia romana Vulcano.

Mesmo depois de vê-lo passar, e ficar às minhas costas, não conseguia parar de sentir a sua presença me observando por trás, e de vez em quando conferia no retrovisor a sua imagem imponente e ameaçadora, ali, monitorando minha passagem por seu território, como se me dissesse a todo instante, que eu tivesse respeito e cuidado, pois deixava bem claro quem é que mandava no pedaço.

Ainda na fronteira com Honduras, fiquei sabendo por um nativo, que a me ver com a camisa da seleção Brasileira de Futebol, começou a falar desse esporte que tanto nos orgulha e leva uma imagem positiva do nosso Brasil por todo mundo, como estou a 50 dias sem ver TV e sem noticias da minha terra, o rapaz me contou que o Ronaldinho havia feito nessa semana um lindo Gol Olímpico, e foi a melhor noticia do dia e não deixei de sentir o amor que todo Flamenguista possui, e o orgulho de ser rubro negro “ate morrer”. No outro dia eu já viajava com a minha camisa do “Mengão”, corrigindo, camisa não; “MANTO SAGRADO”.

Começaram a aparecer nas margens das estradas, nos acostamentos, quilômetros de milho espalhados, seja em grãos ou ainda em sabugos, secando e com seus proprietários esparramando com os pés ou grandes pás de madeira. Essa cena ainda continuaria ate El Salvador, confirmando o que eu iria concluir, ate mesmo depois de passar por Guatemala, que esses países da América Central são muito parecidos em tudo, paisagem, costumes, alimentação, tipologia etimológica e principalmente na pobreza desses camponeses. Entrevistei um desses quando passava pelo interior de El Salvador.

Mas a “cambio de la pobreza”, esses nativos demonstram uma gentileza e um espirito amigável, sempre puxando conversa animada e simpática, e nos acenando ao passamos por todos nas “Carreteras”.

Interessante, como vai se criando um código moral em nos motociclistas mundiais, (adorei ser chamado assim pelo “Fazedor de Chuva”, Dolor), em ter quase que, como se fosse uma “lei das estradas”, esse compromisso de sempre responder a esses acenos tanto das pessoas quanto dos outros companheiros motociclistas que eventualmente vamos cruzando pelo mundão a fora. E me lembro do Tio Bira de Palmas, meu exemplo de dedicação espiritual, quando me dizia que devemos sempre que encontrar alguém em nosso caminho, em nossa vida normal, seja em casa quando acordamos, seja na rua, nos bancos, no transito, no trabalho, enfim, sempre que encontrarmos ou cruzarmos com outro ser humano, desejar um sonoro, alegre e sincero “Bom Dia”, mas um bom dia verdadeiro, não pra cumprir formalidades, desejando realmente que aquele irmãozinho tenha um “BOM E AGRADAVEL DIA”.

Aparece mais uma Montanha no horizonte, mas a estrada passa por um “furo” baixo entre elas e continuamos em direção a El Salvador. Ao ver passar um carro de modelo diferente, lembrei-me que no começo da viagem, quando entramos pela Venezuela, nosso primeiro país dessa jornada, a novidade desses carros de marcas e modelos tão diferentes dos que estamos acostumados a ver no Brasil, chamava muita atenção, e que agora, já depois de vários dias vendo tantos carros diferentes, já não mais notamos nem despertavam meu interesse em analisa-los. Fazendo-me novamente traçar um paralelo da viagem com a vida cotidiana de todos nos, onde a monotonia do cotidiano nos torna cego e insensíveis às coisas simples, como observar a natureza, as crianças, os animais, uma flor, um por de sol, coisas cotidianas e naturais, mas que no contexto geral, são elas que nos permitem momentos de alegria, prazer e são elementos primordiais para vivenciarmos aquele conhecida máxima de: “viver intensamente cada dia como se fosse o ultimo”.

Fomos parados mais uma vez por uma barreira policial, após termos sido também parados a menos de 1 km atrás por outra, e isso já estava começando a nos irritar, e quando vi Hans meio nervoso e impaciente, enquanto tirava o capacete, o policial veio primeiro a mim, que já estava sem o meu, e antes que dissesse algo eu rasguei em meu “portunhol”, tentando comunicar que havíamos acabado de ser fiscalizados logo atrás, quando o oficial, em tom ríspido, me perguntou: - le molesta cuándo lo paro?, 

Eu me levantei, deixando o pequenino fardado, descendente indígena, bem abaixo dos meus olhos, e concluí que não me molestava, apenas demonstravam, agindo assim, uma desorganização e uma perda do tempo dele e do nosso, falei isso também serio e em tom firme olhando em seus olhos e com meus documentos em mãos, lhe apresentando, antes que ele me pedisse. Ele, num misto de raiva e despreparo, e sem ver meus documentos arrematou: “- adelante”. Virou as costas para nos e com sua metralhadora velha e descascada balançando a tira colo, saiu abrindo caminhos entre umas seis ou sete vacas, que nesse exato momento atravessavam calmamente o asfalto, deixando rastros de fezes e sujeiras na área de trabalho dessas pobres “autoridades”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário