Lembranças e mais gratidão


Gratidão”, para mim, é o mais nobre dos sentimentos elevados, o mais importante dos filhos do amor, e sempre ficava me perguntando o que fazer pra retribuir toda aquela gentileza que aquele estrangeiro me proporcionava, estrangeiro, mas não mais estranho, pois já havíamos convivido nessa intensidade, que é viajar juntos acordando e dormindo lado a lado, conversando sobre tudo e todos tanto da minha quanto da vida dele.

Como aconteceu também nessa viagem atual, estávamos descansando na casa de sua filha Patrícia, quando ao ouvi-los, colocando o papo em dia numa certa manha, depois do “Desayuno”, identifiquei um nome em meio a tantas palavras em espanhol, eles diziam de um tal “Hansito”, que a principio pensei se tratar de um apelido carinhoso da filha com o pai, mas fui desconfiando que fosse outra pessoa.

Nesses dois meses de convivência, eu acreditava saber quase tudo com relação à família do Hans, filhos, netos, amigos íntimos etc., pois como já relatei, havíamos conversado por mais de 60 dias, mas então, ao questionar meu parceiro sobre quem era esse misterioso “Hansito”, surpreso, fiquei sabendo que se tratava do filho mais velho de Hans, que era seu parceiro e sócio em negócios e que haviam se desentendido a três anos e nunca mais se falaram e ele também, jamais comentara comigo, como se o filho não existisse mais, inclusive que tinha um neto de quase três anos que não conhecia..

Naquele momento "me acendeu uma luz nas ideias" (como diz o caipira), e comecei a acreditar que estava ali uma forma de retribuir ao meu benfeitor, os presentes que estava ganhando, e com juntamente com minha sempre intuitiva tendência, a crer em “leis de atração” e “manipulação energética”, comecei a acreditar também que talvez essa, seria uma das razoes que nossos destinos teriam se cruzados. Comecei a acreditar piamente que uma das minhas “missões” na vida daquele homem bom, seria ajudar, de alguma forma “Pai e Filho”, se reencontrarem e fazerem as pazes, pois com certeza eram infelizes no tocante aquela situação.

Comecei então a trabalhar com habilidade e respeito, pra não ultrapassar minha liberdade de interferir na vida de meu parceiro em seus interesses e gostos pessoais, oriundos de seu estilo de vida e cultura, e sempre lembrando que “cada um sabe onde o sapato lhe aperta”. Sempre que tinha oportunidade, nesses três dias parados, eu voltava propor a possibilidade de irmos ate a cidade onde vivia Hansito, para fazermos uma visita e dizia ainda que; “nem que fosse pra só pedir um copo de agua como quem não quer nada”...

Depois de muito insistir, pensando estar fazendo minha parte, Hans firmemente pediu-me, que não mais tocasse nesse assunto pois ele era muito magoado com o acontecido e não havia essa possibilidade. Enfim, me calei porém não desisti, planejei que ao retomarmos a viagem, iria tentar uma ultima vez, pedindo a ele que entrasse na cidade quando a placa de sinalização me indicasse, no caminho o local.

Saímos de San José naquele mês de novembro de 2002, numa manhã chuvosa, e em uma parada pra abastecer, voltei a tocar no assunto propondo desviarmos nossa rota, pois a entrada da cidade, onde vivia Hansito estava próxima. Dessa vez Hans levantou a viseira de seu capacete, olhou em meus olhos e arrematou: - “siga seu caminho se quiser Diomar que eu seguirei o meu”. 

Sem dinheiro, sem falar direito o idioma local e totalmente inexperiente em viagens de moto e diante da possibilidade de ser abandonado, desconfiei que estivesse ali, o sinal, que não havia mais o que fazer, que minha parte “pratica”, havia chegado ao fim e que só me restava continuar “acreditando” e “atraído”, através da energia do pensamento, aquele sonhado reencontro familiar.

Andamos então aproximadamente 150 km de uma estrada molhada e cheia de curvas, quando meu “Walkie Man” (naquela época não tínhamos nem lap-top, nem Ipod), tocava uma fita cassete, com a voz da gaúcha Adriana Calcanhoto, dizendo: “nada ficou no lugar, eu quero quebrar os suas xicaras”... E não é que nada ficou no lugar mesmo! Ou melhor, as coisas começariam a ficar no lugar. 

Distraído com a canção, não consegui fazer a danada da curva, sai numa tangente freando, bailando e rumo a um capim e algumas arvores, com a moto apoiada em matas cachorros, de ladinho, deslizando deitada e eu ali por baixo esperando onde iriamos parar. Mais uma vez a sorte companheira me fez parar antes de chegarmos às arvores, e levantei-me então, com dores no joelho, e olhei pra minha moto que após quatro anos pagando prestações, acabava de tirar da concessionária, lá no chão, caída e pior ainda minha “viola magoada e companheira”, que viaja amarrada na lateral por baixo.

Sentei a beira do caminho, sentindo dores, sofrendo com o corpo e o coração e esperando que Hans desse logo a minha falta da suas costas e voltasse pra me socorrer.

Passado alguns minutos, que pareceram horas, e depois de ter descoberto que minha viola estava intacta, a moto apenas com pequenos danos, já mais calmo, principalmente por ver que meu ferimento era superficial, avistei aliviado, meu parceiro voltar e me ajudar a levantar a Suzuki avariada, e ali no acostamento, Hans sentado nela, tentava desempenar um pouco o guidão para voltarmos a San José.

Meu povo da garupa! O que conto a vocês tem Hans como testemunha, e mais algumas pessoas. Enquanto Hans tentava voltar um pouco o guidão e adaptar a embreagem quebrada para voltarmos e eu verificava, se havia perdido mais algo no tombo, quando de repente, uma caminhonete passa por nos, para em meio a uma freada brusca e comprida, dela sai um rapaz tão empolgado e apressado, que ao bater a porta pra fechar, acidentalmente aperta os dedos de uma criança que fica aos berros sentindo dor, e presencio então uma cena, que jamais sairia da minha mente e que muito me afirmou lições que devo sempre acreditar no que podemos realizar quando acreditamos de verdade, e mentalizamos com intensidade e principalmente acreditar cada vez mais nessa “energia de atração”.

Esse rapaz que desceu do carro vai ate Hans, gritando: - “Papito, papito!”, eu então aproximo por trás do rapaz agarrado ao pescoço de Hans que continuava sentado em minha moto, e por cima dos ombros do desconhecido, com olhos arregalados e surpresos me falava: - “é Hansito”...

Foram então momentos belos de paz e amor onde, além assistir o reencontro Pai e Filho de mesmo nome, ainda observei um “vovozinho” meio sem graça, mas carinhoso, conhecer e cuidar dos dedinhos machucados de seu netinho.
Jamais me considerei especial de alguma forma ou com poderes místicos e exotéricos, pois nem gosto dessas crenças e manias, também nunca contei essa historia, me considerando algum missionário ou com outro “Dom Espiritual Superior” qualquer, pois tenho muito cuidado em sempre ter doses de ceticismo e praticidade nesses assuntos, mas ao ver o que tanto mentalizei e desejava se realizar, onde minha energia ectoplasmatica, ou seja lá qual for, ter “Atraído” de alguma forma, mesmo que me usando numa situação fatal, esse reencontro, DESDE ENTAO TENHO, MAIS QUE NUNCA PROCURADO CRIAR E SEGUIR PROPOSITOS EM MINHA VIDA, COMO TAMBEM, E PRINCIPALMENTE, TER MUITO CUIDADO NO QUE MENTALIZO E DESEJO...

E confesso que tem dado certo, uma prova disso sou eu aqui novamente após nove anos passando pelo mesmo local e revivendo tudo e narrando a vocês com a mesma “Energia Atrativa”.

Pra finalizar esse relato, conto também que depois desse episodio, Hans nunca mais se reencontrou com Hansito e que na retomada da viagem, após concertar a moto em San José e passarmos por ali novamente, eu cairia uns 50 km adiante do local do primeiro tombo por causa dessa vez de uma freada no asfalto molhado tentando desviar de um buraco na pista, mas sem danos e nada mais a declarar.

Abraços a todos, e ate o próximo relato.

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