Don Quixote de La Mancha e Sancho Pacinha


Na fronteira com a Nicarágua, na cidade de “Peñas Blancas”, fomos vendo a diferença e a desordem do pais que tínhamos pela frente, onde nos cobravam tudo, a fumaça mal batida nas motos com intuito de matar germes e pragas trazidas do outro pais, cobraram para carimbar o passaporte (coisa que em nenhum outro pais foi feito), cobraram seguro dos veículos e na saída quando achamos que tínhamos pago tudo possível ainda veio uma cobrança do governo municipal.

Passamos mais um bom par de horas envolvidos, e saímos querendo rodar pelo menos uns 300 km antes de anoitecer.

Observamos o lago de Managua, também conhecido como lago Xolotlán. Tem dimensões aproximadas de 65 por 25 km, e uma profundidade média de 9,5 metros (atingindo máximos da ordem dos 39 metros). A capital da Nicarágua, Manágua, está situada na margem sudoeste deste lago.

Este lago foi fortemente poluído, em parte pelas descargas de mercúrio feitas pela Kodak na década de 1950. Apesar da poluição, parte da população de Manágua ainda vive junto ao lago alimentando-se do seu peixe. A alimentação das águas do lago é feita pelos rios Sinecapa e El Viejo.

O nível das suas água subiu 3 metros em 5 dias durante o furacão Mitch em 1998, destruindo as casas de muitos daqueles que habitavam as suas margens.

O lago Manágua comunica com o muito maior lago Nicarágua cujo nível se encontra nove metros abaixo, através do rio Tipitapa. A ligação entre os dois lagos havia sido interrompida em 1910 devido a uma descida do nível das águas do Manágua, mas foi restabelecida em 1998 devido aos efeitos do furacão Mitch.

Mais a frente, apareceu aquele espetáculo sempre muito bonito, de uma “Floresta de Cata-ventos”, aqueles gigantescos aparatos para captar energia eólica, que nos causa um encantamento mágico, com aquelas pás imensas lentamente girando e girando sem parar, me fazendo sentir ainda mais, na condição, que eu já me peguei sonhando em minha alma metida a poética, comparando algumas vezes, como se Hans e eu, fossemos uns tipos semelhantes aos personagens de Miguel de Cervantes, os intrépidos sonhadores e lutadores do bem “Don Quixote de la Mancha” e seu fiel escudeiro “Sancho Pança”, que em nosso caso, devo ser eu o segundo, porem com a pança diminuída, pois já emagreci 2 quilos nessa viagem, e deixando pro meu “Don Hans” o lado mais realista e guardando sempre comigo, o “sonhador”.

Digamos que eu seja um “Sancho Pacinha”, mas com essa pança farta de sensibilidade e emoção, transbordando em desejos de levar boas energias e deixando marcas com os feitos desses “Cavaleiros da Triste Figura”. Porem, como já ouvi de algum poeta: “Estamos descobrindo que os Moinhos de Vento são reais”... E estão disfarçados por ai, nas formas bizarras de políticos corruptos, empresários inescrupulosos, falsos e interesseiros amigos, todos prontos para com suas “Pás Gigantescas”, como se fossem tentáculos cruéis da ambição e do poder, nos enganar e escravizar não somente nossas amadas “Dulcineias”, mas também a nos próprios, e a nossas vidas.

Viver na noite, me fez senhor do fogo. A vocês, eu deixo o sono. O sonho, não! Este eu mesmo carrego!"... (Paulo Leminski).

Mais adiante, seguindo na pobre e triste Nicarágua, sofrida com tantas lutas contra ditadores e revoluções, víamos sempre, nas estradas ruins e esburacadas, famílias inteiras com pás, baldes e carrinhos de mão, mostrando que estavam tapando buracos na esperança de receberem alguma ajuda, ou deveria chamar de esmola, por aquele trabalho no desespero, talvez por não terem outra opção de sobrevivência.

Tudo isso me constrangia muito de ver, como também era constrangedor testemunhar policiais nos parando de quilômetros em quilômetros, e humilhantemente também, mendigarem migalhas, com desculpas de que estavam precisando de dinheiro pra colocar créditos no celular ou pra abastecer suas motinhas velhas e decadentes. E toda essa cena vexatória e sem dignidade, piorava quando meu parceiro, com razão, se recusava a alimentar e contribuir com aquele estado de degradação humana e víamos assim, eles ficarem com “cara de taxo” e mais humilhados pela recusa e não poderem fazer mais nada.

Começou a formar uma grande e pesada chuva no horizonte a nossa frente, quando passávamos por Managua, e paramos em um posto de gasolina pra abastecer e vi meu parceiro sacar de seu alforje de fibra de vidro da sua valente “Asa Dourada”, o poderoso “Macacão Mágico Parador de Chuvas”, que não parou a tempestade que iria cair, mas a transformou em poucos pingos esparsos e em uma neblina cerradíssima que nos atrasou um pouco a viagem, mas eu agradecia por não ser toda aquela chuva que ameaçava cair.

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