No avião de carga


A fatalidade, a sorte, a boa energia atraída ou outro nome qualquer que queiram dar, tem nos reservados sempre surpresas e emoções únicas e interessantes nessa viagem. Chegamos a Bogotá numa tarde fria e conturbada e já saímos no dia seguinte as 21:30hs, embarcados na pequena cabine do avião de cargas, naquele espaço que existe nos aviões comerciais conhecidos, onde ficam as aeromoças, na frente, sentados naquele banquinho dobrável do lado da porta de entrada do Boeing e entre o compartimento de carga e o cockpit dos pilotos.

De inicio ficamos um pouco assustados, pois o avião tinha uma aparência velha e suja por dentro e a cabine que encontrávamos era apertada (aproximadamente 1.20 x 3.00m), e já na entrada nos deixaram a sós, naquele cubículo, apenas nos indicando onde sentarmos, e que nos virássemos pra entender como se colocavam aqueles cintos de segurança cruzados em “X”, e sem mais informações, sem janelas e com algumas malas e caixas de ferramentas do lado, fomos ouvindo as turbinas serem acionadas, adivinhando que em certo momento estávamos dando marcha a ré, certamente rebocados por algum trator e finalmente o barulho das turbinas aumentando de intensidade, e sentirmos aquele solavanco na aeronave pegando velocidade para decolar.

Nessa hora, ali de ombro a ombro, sentados e amarrados, perguntei a Hans se ele estava com medo e ele me respondeu que não precisamente e ainda me contou, nessa hora que, com 70 anos de idade, havia experimentado a experiência de pular de paraquedas. Eu então pensei comigo mesmo que no mínimo seria mais uma experiência também, pra mais um capítulo de minha historia, só esperava que não fosse o ultimo.

Enfim decolamos, sem problemas, e calmos resolvi deitar por cima das malas e tirar um cochilo, pois o dia havia sido de fortes emoções e muitas atividades. Hans passou a mão na máquina fotográfica e foi pra dentro da cabine dos pilotos onde passou o resto da hora de vôo conversando com eles, tirando fotos e ainda filmando a nossa aterrisagem, tranquila, porém também barulhenta com o interior do avião tremando, chacoalhando pra todo lado. E eu ali sozinho, deitado em malas, depois de passar por umas turbulências, causada por uma chuva, que ouvi o barulho durante o vôo, e sentir a pressão característica nos tímpanos anunciando que voltávamos e descer de altitude para a aterrar.

Ao abrirem as portas do Boeing, notei que deixávamos pra trás a Colômbia, Bogotá, a América do Sul, o frio, (pois fazia um forte calor, ali às 22:00hs da noite no Panamá), e ainda, enquanto esperávamos autorização para descer a escada improvisada e tocar o solo da América Central, filmamos do alto da porta de saída, as motos serem desembarcadas, com sua plataforma, onde foram amarradas e protegidas com plásticos, ir sendo empurradas e deslizando em roletes de uma maquina muito grande com sistema de elevadores e guinchos.

Estávamos vivos, emocionados, suados e certamente teremos muitos outros capítulos pra viver nessa grande aventura chamada “Vida”, que apesar de ser aparentemente dura pra os fracos, é justa pra todos conforme o entendimento e merecimento de cada um...

Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs, deixa a luz do sol, brilhar no céu do seu olhar, fé na vida, fé no homem, fé no que vira. Nos podemos muito, nos podemos mais. Vamos lá fazer o que será”... (Gonzaguinha).

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